Onde o prazer está em comprar, não naquilo que é comprado.
Pense em quando você está diante de uma compra, seja pela internet, seja pessoalmente, e responda a essas perguntas:
- Você tem dificuldade de resistir ao impulso de comprar?
- Você avalia a real necessidade daquele produto?
- Você faz pesquisa de preço, frete ou condições de pagamento?
- Você negocia ou pechincha?
- Você pede a opinião de outra pessoa?
- Você habitualmente faz compras sozinho para evitar repreensões de pessoas próximas?
- Você se dá um tempo para pensar se deve ou não comprar?
- Por vezes, você se vê em dívidas por ter comprado mais do que sua renda?
- Ou causou prejuízo financeiro a alguém em função do seu comprar?
- Você já usou de mentiras para encobrir seus gastos?
- Já fez tentativas frustradas de reduzir ou controlar as compras?
- Você compra pra se animar ou, ao contrário, compra por estar muito animado?
Se as suas respostas indicam uma ansiedade desencadeada pela necessidade do consumo, fique atento. É como um vício em drogas: a pessoa fica obcecada pela compra, mas o prazer é efêmero e frequentemente dá lugar ao mesmo vazio de antes, ou à vergonha, ou à culpa, ou mesmo, nesse caso, ao endividamento excessivo.
O comprar de modo compulsivo desponta como uma das causas do endividamento das pessoas, principalmente das mulheres, e, atualmente, com tantos canais de acesso a compras e tantas ofertas, fica difícil exercer controle. Mas, não é só o endividamento. Se a pessoa tem muito dinheiro e puder gastá-lo, será mais difícil perceber a doença. Entretanto, nesse caso, o que indica a doença é o acúmulo de coisas desnecessárias porque não são usadas.
Imagine a cena: você está lá, lendo um artigo do seu interesse ou vendo postagens e, de repente, uma promoção imperdível a apenas um click de você. É ou não difícil resistir e manter o foco no que você estava fazendo?
Então, antes de falar da compulsividade, preciso falar do seu motor, a impulsividade (agir sem considerar as consequências), que pode até virar um transtorno psiquiátrico quando fica exacerbada.
Prestemos atenção a como se sucede. Ao impulso de fazer algo que se gosta, se segue uma tensão crescente, um prazer de fazer, um alívio quando se faz e, finalmente (mas, não necessariamente) um sentimento de culpa.
Normalmente, o pico de prazer conseguido no ato de comprar vira fumaça rapidamente porque o objeto do prazer não é o objeto adquirido na compra, mas sim e somente o ato de comprar.
A compulsividade por comprar passou a ser considerada uma doença na década de 1980. Não existem causas definidas, mas alguns indicadores podem ser identificados como, por exemplo, a história da família dessa pessoa, porque nessa família pode-se encontrar outros membros com problemas no controle de impulsos ou outras compulsividades (bebida, sexo, jogo etc). O que sugere que essa doença pode ter interferência da genética.
De qualquer forma, o que se pode notar é que são pessoas com alguma fragilidade emocional, que buscam, nessa compensação, formas de autovalorização. A aquisição excessiva ocupa o espaço do vazio existencial ou da baixa autoestima. O problema é que vira uma busca de satisfação: quanto mais compra, mais se sente bem, e mais se quer comprar.
E, hoje em dia, muitas são as facilidades para se comprar qualquer coisa, a qualquer hora. O cartão de crédito começou uma onda facilitadora do ato de comprar e a internet transformou essa onda numa tsunami.
Engana-se, porém, quem pensa que esses fatores são os culpados. Claro que a facilidade estimula o comprar, mas existem também muitos compradores compulsivos que compram simplesmente porque não conseguem frustrar o vendedor ao recusar comprar; outros pelo prazer de sair da loja com muitas sacolas; outros, ainda, para serem reconhecidos ou vistos como poderosos (muito dinheiro=muito poder), na linha do “Consumo, logo existo”.
Tratamento
Devemos pensar o tratamento em várias frentes. O primeiro passo é conscientizar a pessoa a buscar ajuda psicoterapêutica. A psicoterapia ajuda a entender as razões das compras excessivas, as carências afetivas que a pessoa busca suprir, os “gatilhos” que disparam o desejo de comprar, entre outros. Além disso, o objetivo é ressignificar o comportamento compulsivo, apontando outras formas de obter prazer, satisfação, que não seja através do consumo.
Uma outra frente é o tratamento medicamentoso para alívio de alguns sintomas como o excesso de ansiedade, a perda do sono, as mudanças repentinas de humor.
Os grandes centros contam com grupos de apoio, os “Compradores Compulsivos Anônimos”, que também costuma funcionar muito bem no suporte aos outros tratamentos.
A compulsão por compras é capaz de causar prejuízos imensos na vida de uma pessoa, com consequências negativas extremas na vida pessoal, profissional e financeira. Inclusive pode ser uma das causas do fim de muitos relacionamentos. Assim, não deixe de buscar ajuda se você percebe que está te causando danos.
Caso queira receber mais detalhes do passo a passo do tratamento, ou dicas de como controlar a compulsividade por compras, mande mensagem por aqui ou pelo e-mail marleidi@psicomedic.med.br